domingo, 28 de junho de 2015

Encontro comigo mesma, muito longe de casa


Era uma vez uma menina que preferia ir à biblioteca que ao parque, e que tinha nos livros os seus melhores e mais fiéis amigos. Essa menina entrou na adolescência, e continuou sendo a garota estranha que vivia carregada de histórias fictícias.


Antes que pudesse perceber, a vida real invadiu tudo, e essa menina teve que esquecer a fantasia, a filosofia, o faz de conta. Trocou os livros por responsabilidades, contas a pagar, emprego e necessidades, o sonho de escrever foi substituído pelo de ganhar muito dinheiro. Ela não alcançou nem um, nem o outro, tornou-se fria, triste e superficial. Esqueceu-se de quem era, e passou a ser ninguém. Sabe o que acontece quando você se torna ninguém? Outra pessoa passa a decidir o que você deve ser, como deve pensar, sentir, sonhar, viver, e passam-se os anos sem que você nem perceba que deixou de ser, seja lá o que for.

Então nossa menina estava assim, vivendo uma semi vida, sentindo-se semi morta, havia virado mulher, mas deixado de ser pessoa, não tinha desejos, só obrigações. Ela estava no limite. Deixar de existir de vez parecia cada vez mais uma opção interessante.

Aí, alguém deixou um livro infantil dando bobeira. Era o último da série, não faria sentido nenhum, mas afinal, naquele momento, o que fazia sentido? E ela mergulhou sem pensar duas vezes num mundo mágico que fazia o nosso mundo parecer realmente absurdo. E sentiu-se em casa entre trolls, gigantes e elfos, bruxos bons, comensais da morte, mestres e estudantes. Reconheceu imediatamente o que significava o dementador, sonhou em viver na Toca e desejou ardentemente estudar em Hogwarts, visitar Hogsmeade e fazer gordices na Honeydukes. Ir a este mundo não só trouxe nossa heroína de volta à vida, mas a fez lembrar do quanto pode ser revigorante fugir para outra realidade.

Ela agora já conhece muitos outros, lembrou-se dos que visitou na infância, e até criou o seu próprio. Mas esse mundo, o mundo dos bruxos, Hogwarts, o Largo Grimmauld 12, o Knightbus, A plataforma 9 ¾, esse mundo sempre vai fazer parte da sua alma. Foi nesse mundo que ela lentamente voltou a ser ela mesma. Onde reaprendeu a respirar e sonhar. Onde libertou a mente e ousou voltar a ser alguém.

Por isso, esse mundo sempre vai ser a casa dela. Por isso, o coração bateu tão forte ao reconhecer aquelas torres, e as lagrimas teimaram a vir assistindo a um coral de sapos e tremeu de emoção ao reconhecer um velhinho de barba branca e seus amigos de outra vida. Por tudo isso, a emoção foi mais forte que qualquer constrangimento, e entre lágrimas, ela mergulhou dentro da própria mente e espera nunca mais ter que sair de lá.

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