quinta-feira, 19 de abril de 2018

Resenha - A anatomia de uma dor

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Resenha – A anatomia de uma dor
Autor: C.S. Lewis
91 páginas
Lançamento: 1961
Sinopse: Neste relato tocante, C. S. Lewis mostra seu lado sombrio e amargo, até então desconhecido dos leitores. Apesar de ter escrito anteriormente sobre o sofrimento, é neste livro pungente que suas emoções são colocadas à mostra. Com grande intensidade e sofrimento, o escritor revela seu sentimento de indignação após a perda de sua amada. Até descobrir algo... Deus certamente não estava fazendo uma experiência com minha fé nem com meu amor para provar sua qualidade. Ele já os conhecia muito bem. Eu é que não. Nesse julgamento, ele nos faz ocupar o banco dos réus, o banco das testemunhas e o assento do juiz de uma só vez. Ele sempre soube que meu templo era um castelo de cartas. A única forma de fazer-me compreender o fato foi colocá-lo abaixo.


Esse livro me foi recomendado ano passado, numa sessão de aconselhamento. Sendo fã de Lewis, tinha certeza que o material valeria a pena.
A primeira edição foi lançada sob o pseudônimo N. W. Clerk, o que vai se tornando cada vez mais compreensível a cada página lida. Nesse ensaio, Lewis expõe o nervo latejante de sua dor e tudo o que a acompanha. Crises de fé, medos nem sempre tão óbvios, altos e baixos, confissão das pequenas hipocrisias a busca por conforto e um sentido numa dor tão lancinante. É tão cruel que realmente fica difícil enxergar naquelas páginas o criador de Nárnia ou o cristão amoroso de Cristianismo Puro e Simples. À primeira vista, o encanto parece ter dado lugar a uma lamentação sofrida e tão íntima que chega a causar um certo constrangimento. É como se ele tivesse deixado a porta do quarto mal fechada e desse a chance do leitor observar sua intimidade mais secreta.
Lewis foi extremamente feliz em escolher o formato do texto. Enquanto desvenda a própria perda, ajuda o leitor a assimilar as próprias. Nada de cinco fases do luto, ele consegue traduzir essa dança em espiral que avança e retrocede em busca de redesenhar a vida e reencontrar o verdadeiro sentido dela. A imagem do castelo de cartas sendo derrubado para voltar a ser construído remeteu a Eustáquio tentando se livrar da couraça do dragão e só conseguindo com a ajuda dolorosa de Aslam. Ninguém vai encontrar respostas fáceis nessa obra, aliás, muitas perguntas sequer as têm. O foco é o processo, reconstruir a fé e voltar a enxergar o mundo, não com os mesmos olhos de antes (ele repudia essa ideia com verdadeiro pavor), mas com uma nova perspectiva, ciente que a memória de quem se foi sempre vai acompanhar, às vezes trazendo sofrimento, às vezes não.

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